Mariana Bacelar
Bom Povo Português
(Performance colectiva com o Grupo Coral de Educadores/Professores de Amares)
Um hino nacional tenta reflectir a união e glorifica a história e as tradições de um país. Tem como função criar um sentido de pertença, unificar um país e um povo, criar uma identidade.
A actual posição de Portugal face às políticas europeias, dominadas pelo governo Alemão, coloca-nos perante o medo da perda de soberania, perda esta que questiona os quase nove séculos da formação do nosso país.
Mediante a aparente passividade do nosso nobre povo, nação valente e imortal, não podemos deixar de efabular sobre a perda definitiva de soberania. E se todos nos tornássemos alemães?
Esta hipótese exige-nos um olhar consciente sobre a História e, particularmente, sobre a nossa História recente. Ironicamente, há menos de 40 anos era Portugal que subalternizava outros povos, tendo-se colocado no papel dominador que hoje a Alemanha representa para nós. Para além de todo o tipo de exploração imposto pelos
governantes portugueses ao longo de séculos, nas antigas colónias, os povos colonizados eram obrigados a cantar o hino nacional do Império português. Poderá haver maior humilhação para um povo? E se tivéssemos nós agora que cantar o hino alemão?
O carácter cíclico da História é o ponto de partida para a performance agora proposta para a Bienal de Amares 2013.
Ao pedir ao Grupo Coral de Educadores de Amares que cante o hino alemão perante o grande público da Vila, pretende-se criar um objecto de problematização da nossa realidade, bem como um exercício de análise histórica, ou um exercício de consciência histórica. O absurdo e a ironia desta acção improvável, funcionam como metodologia de
ridicularização das relações de Poder (Dominador-Dominado) e de questionamento sobre a forma como nos relacionamos com o Outro – o Outro-Nação, o Outro-Povo, o Outro-Indivíduo.
Bio
Mariana Bacelar, Porto, 1978
Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Realizou o Programa de Estudos Independentes do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, 2008/2009. Tem desenvolvido o seu trabalho artístico nas áreas da Escultura, Instalação, Vídeo e Performance. Participa desde 2003 em exposições, festivais e residências em Portugal, Moçambique, Cabo Verde, Brasil, China, Macau, Espanha e Reino Unido.