Manuela Pimentel
Murmúrio de muros
As meninas nunca deviam ser fechadas a sete chaves. Os sonhos nascem da carência. O príncipe encantado é um fantasma gerado pela falta de amor. As paredes transpiram desejo de liberdade. Mas o paradoxo do prisioneiro, descrito por Kafka, é inevitável: se, por um lado, a vontade do recluso está toda voltada para um único ponto de fuga – ou antes, de evasão – que orienta a perspectiva global, por outro, é preciso sobreviver à clausura e, para tanto, tornar a cela confortável ou, pelo menos, habitável. Forrar as paredes, decorá-las, grafitá-las. Ora, a liberdade é sempre condicional, condicionada. O horizonte está sempre tapado por paredes. Se o interior é, por essência, uma jaula, o exterior é um labirinto. E o dentro só se distingue do fora pelo tecto, não pelas paredes. E pelos respectivos ocupantes. Dentro, está-se em casa. Fora, circulam minotauros e caçadores de minotauros, e meninas amedrontadas, sacrificadas aos monstros. E talvez outras criaturas, tímidas ou envergonhadas, que inscreveram nas paredes a sua fome ou a sua profusão de amor, criaturas enclausuradas que sofrem de idênticas privações e em quem a prisioneira, sem as ver, reconhece as suas semelhantes, as suas irmãs. Uma solução consistiria em interiorizar as paredes da cidade, com os seus azulejos, os seus cartazes arrancados e os seus graffitis, com os seus contos, as suas promessas, os seus gritos – pois as paredes são faladoras para quem sabe escutá-las –, em transportá-las para dentro de casa, em pendurá-las como um correr de janelas tapadas nas paredes interiores da cela mental, em responder ao apelo que elas lançam. Porque a liberdade fica sempre do outro lado. Do lado de cá, há os dias contados, as declarações riscadas, as lágrimas contidas, os encontros falhados, os recados rasgados, os desejos emparedados, o pesar dos arrependimentos.
Saguenail
Bio
Nasceu no Porto em 1979. Vive e trabalha no Porto.
O seu trabalho tem-se desenvolvido em diferentes áreas e práticas artísticas como a pintura, o desenho, cenografia e o video.
Licenciada em Artes Plásticas, com Bacharel em Desenho. Especializada em Litografia e Arte Multimédia na Escola Superior Artística do Porto (ESAP) em 2003.
Formada em Xilogravura Tradicional Japonesa, orientada pelo Professor Hiroshi Maruyama(Tokyo) in 2003 e Gravura, pelo Professor Dacos (Belgica) em 2006.
Tem desenvolvido diversos projetos em parceria com outros artistas, destacando as suas ultimas intervenções no Cyrano de Bergerac (Cenografia), VOZES, inserido no projecto Quintas de Leitura, no TCA, O Fraseador de Pedro Lamares, curta metragem Check Point Sunset, de Pedro Ludgero, KINO de Natalia Warth, entre outros. Fundadora das Impressões de Risco, desde 2004, onde representa o seu trabalho em diversos formatos portateis com o objectivo de tornar a Arte acessível a todos.
Em 2007 foi distinguida com o 1º prémio de Pintura Servartes – Corpo em expressão e em 2004 com o prémio ESAP do Curso Superior de Artes Plásticas. O seu trabalho está representado em distintas coleções publicas e privadas.
Colaboradora e membro do Grupo Afrontamentos desde 2008.
Expõem individual e coletivamente desde o ano 2001, destacando as suas ultimas intervenções em 2012, na Galeria Edge Arts em Lisboa e Galeria Otto dell´art em Florença com Tabula Rasa; NOC NOC em Guimarães, Capital Europeia da Cultura, com a escultura P.S. AMO-TE – um Avião em Acrilico e Resina s/Cartazes de rua, técnica que explora em diversos formatos.