Paulo Pimenta
Percurso pela cidade, crise, desilusão, vazio.
É sempre irracional? Que todos os homens precisam de sonhar, mesmo que saibam que os sonhos são apenas isso, sonhos?
Quantas vezes os sonhos se desfaziam entre os dedos precisamente quando pareciam ao alcance da mão?
José Manuel Fajardo, in Demónios à minha porta
Viajo pela cidade numa rotina diária, fazendo percursos sem destino e encontrando seres abandonados, deitados no chão, num sono profundo. Cobertos por jornais, cobertores e caixas de cartão. Lá estão eles a dormir mais uma vez durante o dia. Vou viajando pelas ruas, encontrando estas criaturas desligadas do mundo enquanto a cidade permanece sempre acordada. Carros a apitar, crianças a gritar, transeuntes a falar ao telemóvel, absorvidos pelos seus inadiáveis compromissos. Chuva, sol, vento e frio. E eles continuam a repousar sobre o mais duro dos leitos, num sono tão profundo que me leva a imaginar o que sonham. Mas será que sonham?
Viajo pela cidade e cada vez encontro mais lojas fechadas, casas abandonadas, pessoas a desesperar, a irem embora, manifestações, lutas, desilusão, desemprego, memórias de sítios que já não existem. É a actualidade do meu país, é a instabilidade, o medo, a incerteza, a tristeza dos meus amigos ou conhecidos. São pais que têm vergonha de pedir e passam fome para dar comida aos seus filhos, crianças que só têm uma refeição por dia na escola. Todos os dias aumenta o desemprego, a pobreza, fome, a austeridade, o fosso entre classes sociais.
Será que vale a pena sonhar acordado? Ou sonhar a dormir? O que vai fazer mais a troika pelo poder económico? Até onde estas pessoas poderão ir, e nós até quando aguentamos?
Os demónios vão continuar à minha porta?
O meu trabalho será apresentado em forma de instalação, com som, as imagens em slideshow, e terá aproximadamente quatro minutos de projecção.
Bio
Paulo Pimenta é um fotojornalista português que trabalha atualmente no jornal “Público”. Aos 46 anos, o fotojornalista conta com um grande leque de trabalhos e com uma formação profissional diversificada. Com o curso superior de Fotografia na Escola Artística do Porto (ESAP) concluído em 1994, já colaborou com o jornal “Tal e Qual”, com a extinta revista “HEI” e com a revista “Visão”. Começou a colaborar com o jornal o “Público” em 1997 mas viu o seu trabalho suspenso por alguns tempos. Durante esse período, trabalhou para o grupo Impala, nomeadamente para as revistas cor-de-rosa, área que não era de todo a sua. Ganhou destaque com alguns dos seus trabalhos como “10 Espetáculos 10 Mulheres”, “As Três Primeiras Músicas” e “Vou ao Porto”.
Em 2010 ganhou o prémio “Fotojornalismo Estação Imagem”, o único prémio de fotojornalismo atualmente existente em Portugal com o trabalho sobre a desativação da linha ferroviária do Sabor. Em 2012 alcançou o segundo lugar com o trabalho sobre o Portugal Fashion.
Além dos trabalhos publicados no jornal para o qual trabalha, também divulga e partilha o seu trabalho através de dois blogues. Um inaugurado em setembro 2006, que se intitula “Paulo Pimenta Diários” e outro, iniciado em fevereiro de 2010.